Ao adentrarmos nos livros da poeta e psicanalista Paula Vaz, um grande sim se inscreve nas copas de uma árvore de poemas que pensam e deslocam símbolos e sintagmas da obra de Francis Ponge e Paul Valéry para atravessá-los na direção de uma dicção e pulsação próprias. Em seu primeiro livro NÃO SE SAI DA ÁRVORE POR MEIOS DE ÁRVORE, PONGE-POESIA ( Cas’a Edições, 2014 ) , Paula chega a um hibridismo entre ensaio, poema e incorporação de uma poética em outra que a pensa em um processo que é velado na maioria dos poetas de hoje e assumido por ela neste livro: o da escuta e notação como forças verbais, de composição do mundo. Em seu livro seguinte A OUTRA LÍNGUA: AMOR ( Cas’a Edições,2016) as demandas de organicidade destas forças ganham um endereço externo-interno : o corpo vivo e a duração do encontro enquanto acontecer da etérea leveza e porosidade da experiência do existir. Paula continua seu hibridismo entre o poema e o ensaio mas em outra chave, ainda longe da metaforização crescente, um vício comum na poesia, desde sempre. As lições aprendidas com Ponge em sua máquina de destruir metáforas, foram aprendidas com profundidade. Seu terceiro e mas recente livro DESERTO ( Cas’a Edições, 2018) ela chega ao que nos parece, o final de uma trilogia e de um processo que abarcam a experiência de transubstanciação da solidão em um pensamento onde a fuga poética é convertida em centro de um processo de apreensão do mundo. O deserto como todos sabemos, é o contrário da cidade e aqui a poética de Paula se bifurca entre aquilo que Benedito Nunes se referindo ao trabalho de Clarice Lispector chamou uma vez de ‘ servir a ininteligibilidade das coisas’ e que em Paula é parte da adesão apaixonada ao Le Parti pris des choses de Francis Ponge e entre uma abordagem impressionista de um ex-centro que se move na direção das coisas em busca de um impacto que o dissolva e o converta em silêncio inicial do mundo. “ Marcelo Ariel em Revista Mallarmargens
SOBRE O LIVRO
O quarto livro de poemas de Paula Vaz é uma estudo sobre a animalidade do humano através de poemas que tentam dialogar em uma chave ao mesmo tempo existencialista e fabular com alguns animais, dialogando com um gênero dentro da tradição literária conhecido como zoopoética.
POEMA DO LIVRO ‘ O REINO ANIMAL DA POESIA’
A coruja
Com olho arregalado
ela emudece
vendo a noite do mundo.
Ela não consegue dormir
nem falar de amor
Um poeta diria que é porque amor
é feito bomba
nas mãos pode explodir
mas a coruja não tem mão
e impenetrável permanece
É por isso que ela é muda?
Devo pesquisar os modos da coruja
antes que isso termine
e eu conclua a coruja
sem a coruja
Ah, sim,
Lá está ela
Do alto da sua Árvore
ou no chão da estrada
noturna e muda
Mas às vezes ela muda
Ela grita?
Parece gato com asa
empalhado
e desidratado
O que reidrata a coruja?
She likes the night light, baby!
She likes the night light
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