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Livro costura obra do francês Francis Ponge e a psicanálise

Paula Vaz lança “Não Se Sai de Árvore por Meios de Árvore” hoje de manhã na livraria Scriptum

Por Carlos Andrei Siquara Publicado em 25 de outubro de 2014 | 04h00 – Atualizado em 25 de outubro de 2014 | 04h03

A psicanalista Paula Vaz, quando conheceu os escritos do francês Francis Ponge (1899–1988), reconheceu neles várias possibilidades de diálogo com a obra do também psicanalista Jacques Lacan (1901–1981). O interesse dela pela poesia do primeiro se tornou crescente, e a levou a diversos outros títulos do escritor. Resulta desse processo o livro “Não Se Sai de Árvore por Meios de Árvore”, que ela lança hoje, na livraria Scriptum.

Inspirado pela linguagem desenvolvida por Ponge, o seu trabalho traz um ensaio sobre o olhar do escritor, além de alguns poemas dela mesma. “Eu busco apresentar um pouco sobre esse poeta, interpretando parte de sua obra, ou seja, há uma leitura minha sobre o que ele escreveu. Eu trago textos de minha autoria e fragmentos dos de Ponge”, explica Paula Vaz.

De acordo com ela, o francês costumava se referir ao que produzia como “proemas”, em razão do texto estar localizado na fronteira entre a prosa e a poesia. “Ele concebeu uma prosa poética, que, às vezes, se revela um pouco estranha. Por isso, talvez, ainda hoje ele seja pouco traduzido no Brasil”, pontua a autora.

Paula chama atenção para a recorrência de um tema na literatura de Ponge que é a escrita motivada por determinados objetos. “Diante de algo que o perturba ele tenta descrevê-lo, mas não com os significados que já existem. A sensação que dá é que Ponge vai girando o objeto, buscando ângulos pouco explorados, desmembrando, assim, ideias e significados em torno dele. A partir disso, ele renomeia aquele objeto, reconfigurado como elo no processo de escrita”, observa ela.

Para frisar essa noção de materialidade presente na literatura de Ponge, Paula sublinha que concebeu um livro que brinca com os sentidos por meio de imagens e sons. Junto vem um CD, no qual ela recita textos dele.

“O livro traz algumas fotografias que eu produzi na região da Provença onde ele viveu os primeiros anos de vida, mas também de outros lugares, criando um cenário imagético que dialoga com a obra de Ponge”, diz.

Ao refletir sobre a relação entre a escrita dele e a psicanálise, ela afirma que o francês apresenta um discurso muito próximo do percurso analítico. “Eu acredito que a obra de Ponge pode ter contribuído, inclusive, para Lacan formalizar conceitos importantes para a psicanálise”, conlui.

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