Eis um livro, uma árvore que habitou o espaço da Cas’a’screver e agora se abre para fora de si.
Leio assim esse livro: “tomar o partido das coisas = levar em consideração as palavras”. Leio com Paula Vaz, em conversa infinita com Frances Ponge, que arvorecer demora. Desloca-se entre a quimera de um dizer verdadeiro e a fulgurância do seu movimento. Arvorecer demora e, então, somos aspirados para o barro ou a lama do poema. Nesse lugar, os corpos, os telhados, a copa das árvores, o pensamento extenso, a língua, a palavra ofertada são cristais cintilando no espaço de um silêncio tornado vivo.
Em nome de poeta, em nome de poema, recolhemos, ainda antes do amanhecer, o conhecimento vegetal que Paula nos oferece: Não se sai de árvore por meios de árvore.
Foi assim, marcado pelo nome vegetal, como um “abrigo na orla do bosque”, que celebramos o lançamento do livro-árvore, de Paula Vaz, neste sábado, 25 de outubro de 2014, na livraria Scriptum, em Belo Horizonte.
“nesta árvore de vida, o declive do telhado é firme, impenetrável à erosão da chuva; como cada um chegou com sua árvore – Holderlin com quaercus, Joshua com pinus lusitanus, Giordano com a sua nogueira, há três árvores em torno da porta aberta de par em par;
(…)
este é, de facto, um bosque de pinheiros marítimos – um pinhal –, e a agitação do vento circula na base, impelindo as janelas a uma velocidade de grande rapidez; aqui as estrelas brilham por cima das cabeças, e os cheiros vindos do mar entram pelas narinas, e os orifícios das raízes;” (LLANSOL, 1985)
Que o nome de poeta, nome de poema, continue arvorecendo nas mãos que sabem que a melhor medida é o rés, a matéria da palavra em estado de larva, o cristal do nome, sua medida vegetal, pedregulho mais brilhante do que o céu.
Arvorecer demora… e “tudo é tão ligeiro que cairá sem se ver”.
Janaina de Paula
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